A interactividade videomusical é capaz de ser um caso sério em 2014

tribeca

Um dos aspectos mais interessantes da cena videomusical do ano passado foi o surgimento dos primeiros vídeos musicais interactivos genuinamente dignos desse nome (estou a pensar sobretudo nos que foram produzidos para temas dos Arcade Fire, Bob Dylan e Pharell Williams). Pois bem, o Genero.TV (de que já falei aqui) acaba de lançar um projecto para a criação de três vídeos musicais interactivos para temas de gente do calibre de Damon Albarn, Aloe Blacc e Ellie Goulding. Tudo graças à plataforma interactiva Interlude que permite transformar segmentos audiovisuais numa espécie de jardim borgesiano. Ainda apenas estamos em Janeiro e a interactividade videomusical já está aí a dar cartas. Vai ser bem interessante acompanhar os resultados finais do projecto.

Animais

Ele há coincidências que põe em causa o próprio acaso. A semana passada, publiquei um post sobre o Genero e referi, como exemplo, o projecto/competição relativo ao tema «Animals» dos Muse. Pois bem, acaba-se de saber agora mesmo que o vídeo vencedor é uma produção tuga da autoria da dupla Inês Freitas / Miguel Mendes (oneness team).

Isto não passaria de uma efemeridade, não fosse o facto de o vídeo vencedor ser fabuloso não apenas do ponto de vista estético como na sua própria narrativa. Vale bem mil discursos sobre a crise que actualmente avassala Portugal e a maioria dos países da zona Euro. Parabéns aos vencedores.

Genero

1238507_300Há algumas semanas tomei conhecimento (através de uma dica do João Afonso do Musikki) de uma plataforma colaborativa online que, desde 2009, tem servido de elo de ligação entre, por um lado, a indústria discográfica e projectos musicais considerados de escala global e, por outro, o número crescente de profissionais ou meros aspirantes a cineastas que pululam na Web: o Genero.

O modus operandi do portal é de uma simplicidade e eficácia avassaladora: após uma negociação com a editora ou projecto que pretende adjudicar um vídeo musical, o Genero lança o respectivo projecto de produção com uma sinopse, orçamento e prazo de entrega previamente definidos. Depois, os potenciais realizadores descarregam a trilha sonora no portal, produzem o vídeo, cumprem determinados quesitos burocráticos e legais e submetem o seu vídeo à consideração do júri (formado quase sempre pelo(s) artista(s) e um representante da editora e do portal). O facto de todos os vídeos submetidos poderem ser visualizados, votados e comentados pelos membros da comunidade, torna o portal num local igualmente privilegiado e estimulante para a fruição videomusical. Mas os grandes beneficiados são, sem dúvida, as editoras e os projectos musicais que, em troca de alguns milhares de euros conseguem ter acesso à criatividade de uma comunidade em franco crescimento. Um exemplo: este projecto dos Muse (actualmente em fase de avaliação) conseguiu obter 129 propostas. Não é por acaso que o portal apenas faz negócio com editoras ou “global artists”: são, no fundo, estas entidades que lhe garantem os maiores overheads.

Como é óbvio, o spin gerado pelo portal é “ligeiramente” distinto e pretende sobretudo posicionar a plataforma como uma oportunidade para jovens realizadores aumentarem o seu portefólio, expandir a sua rede de contactos e, porque não, ganhar algumas massas. Tudo isto é inegável, claro, mas, pelo menos para já, o Genero ainda está distante de garantir uma relação simbiótica entre a indústria musical e a criatividade, mais ou menos vernacular, que fervilha nas plataformas digitais.