mv flux top 30 (parte I)

mvtop302013

Aqui está ela: a minha selecção de vídeos musicais de 2013. Ou melhor: a primeira parte. Este ano, resolvi ampliar a lista e oferecer um Top 30 em vez de um Top 10.

Aplicam-se a esta lista as considerações que teci o ano passado: subjectividade qb e um critério que procurou sobretudo valorizar a capacidade de cada um destes vídeos em fazer-me pensar sobre as potencialidades e os limites do formato. É por isso que, apesar de 2013 ter sido um ano caracterizado por uma avalanche de vídeos musicais textuais (ou lyric music videos) e por experiências sinceramente inovadoras no campo dos vídeos musicais interactivos, nenhum exemplar destes dois géneros videomusicais acabou por entrar na lista: não porque não havia obras dignas de referência, mas simplesmente porque houve outros vídeos que me fizeram vibrar, de forma mais intensa e prolongada, a minha corda sensível.

Mas chega de conversa. Eis a primeira parte da lista. As restantes duas partes serão nos próximos dias.

30. Haim: «The Wire» (real. Alexander Hammer)

As Haim foram das presenças videomusicais mais marcantes do ano. As manas são genuínas performers e, quando estão juntas, emanam um magnetismo que passa muito pelo facto de não se enquadrarem nos arquétipos dominantes de beleza e comportamento que actualmente dominam a música pop. Este vídeo também é formidavelmente contra-corrente: arrisca uma veia humorística muito encenada e meia infantilóide, mas que acaba por funcionar quando percebemos o empenho dos intervenientes (que inclui Jorma Taccone dos The Lonely Island). O facto de esta ser uma das grandes canções do ano também ajuda, né.

29. Bonobo: «Cirrus» (real. Cyriak)

Um absoluto prodígio coreográfico de animação e manipulação de imagem.

28. Vampire Weekend: «Diane Young» (real. Primo Kahn)

Estes meninos foram contidos em matéria videomusical este ano, o que é obviamente uma pena pois os Vampire Weekend são das bandas que, desde a primeira hora, sempre levaram muito a sério o seu legado visual. Ainda assim, deixaram-nos alguns dos mais conseguidos vídeos musicais textuais de 2013 (elegantes e subtis) e esta alucinante, nervosa e contagiante recriação da última ceia.

27. Courtney Barnett: «Avant Gardener» (real. Charlie Ford)

Para além de ser esteticamente devedor ao grande Wes Anderson, há algo de que gosto muito neste vídeo e que é porventura pouco explorado hoje em dia no formato: a narrativa (bem esgalhada) está-se totalmente a borrifar para a letra (que é excelente) o que cria uma tensão que é uma absoluta mais-valia para o cidadão.

26. Tame Impala: «Mind Mischief» (real. David Wilson)

Por falar em Wes Anderson, esta é a grande fantasia erótico-colegial do ano (e com o que me pareceu serem óbvios ecos rushmorianos). E igualmente um raro exemplo de um vídeo musical que mistura com sucesso imagens reais com animação.

25. The Knife: «Full Of Fire» (real. Marit Ostberg)

É o momento videomusical engagé ou politicamente empenhado do ano, muito devedor de uma das mais importantes expressões vanguardistas do séc. XX: a videoarte. É uma bela demonstração de como o formato pode ser explorado para acolher exercícios artísticos mais experimentais e arrojados. Fazem falta mais vídeos como este no HTML.

24. Gesaffelstein: «Pursuit» (real. Fleur & Manu)
23. Bitting Elbows: «Bad Motherfucker» (real. Ilya Naishuller)

Penso que ainda haverá algumas pessoas que vêm o formato videomusical sobretudo como uma espécie de laboratório experimental de efeitos especiais. Apesar de tal ter sido mais verdade na década de 90 do que agora, vídeos como este belo par provam que na era da criatividade vernacular, dos conteúdos gerados por utilizadores e do renascimento da estética DIY, ainda há espaço para pequenos milagres tecnológicos. Confesso que nem sou muito dado a este tipo de vídeo cheio de pirotecnia para videogamer ver, mas tenho mesmo que abrir aqui, cabisbaixo, duas nobilíssimas excepções.

22. Blood Orange: «Time Will Tell» (real. Alan Del Rio Ortiz)

Este está nas antípodas dos dois anteriores: um longo plano-sequência filmado num único take sem grandes adornos ou efeitos especiais. Um exemplo absoluto daqueles vídeos de baixo orçamento cuja sinopse no papel deve consistir em apenas numa linha gasta e chata: artista toca piano, canta e dança numa sala com espelhos e cortinas. E depois sai isto, cuja beleza parece estar permanentemente a fugir-nos pelos dedos.

21. Oneohtrix Point Never: «Still Life» (Betamale) (real. Jon Rafman)

É o vídeo musical porventura mais perturbador do ano. Não apenas porque levanta a ponta do véu dos cantos mais recônditos da Internet, mas porque este exercício redaccional (isto é, que consiste exclusivamente na edição de imagens pré-existentes) tem o potencial de despertar em nós (ou pelo menos em mim) uma melancolia e uma solidão avassaladoras. Definitivamente, um vídeo que tem muito pouco a ver com a nossa noção burguesa de “entretenimento”.

2 comentários a “mv flux top 30 (parte I)

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